Microbiota saudável e menos resistente – Antimicrobial Stewardship

11/out/2016

Microbiota saudável e menos resistente


Denise Faccin

Uso Racional de Antimicrobianos

O Antimicrobial Stewardship é um programa de gerenciamento para o uso racional de antimicrobianos, que leva em conta a microbiota, o  perfil de resistência e a sensibilidade dos antimicrobianos utilizados numa instituição de saúde ou hospital.

“É um processo sistematizado para o uso adequado de antimicrobianos, que leva em conta os micro-organismos identificados em culturas hospitalares, os guidelines e protocolos de indicação ou uso de antimicrobianos e todas as estratégias do ciclo de uso”, afirma Sylvia Lemos Hinrichsen, médica infectologista especializada em biossegurança e controle de Infecções-Risco Sanitário Hospitalar, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Como consultora de qualidade e gestão de riscos segundo padrões internacionais de segurança do paciente, Sylvia ainda reforça que o bom gerenciamento do uso de antimicrobianos faz parte de um processo básico educacional das equipes multidisciplinares, em especial, dos prescritores de antimicrobianos. “Inclui também as facilidades de tecnologia da informação disponibilizadas para um melhor controle e monitoramento do uso”, fala.

A seguir, você confere a entrevista que o Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP) fez à médica infectologista Sylvia Lemos Hinrichsen sobre o tema.

IBSP – O que é levado em conta no processo de uso de antimicrobianos?

Sylvia Lemos Hinrichsen – São levados em conta o diagnóstico do paciente e sua indicação para o uso de antimicrobianos, assim como o que vai ser escolhido para uso, monitorando de dose, via de administração, tempo de uso, perfil de sensibilidade/resistência, além de evidência de eventos adversos, interações medicamentosas, alergias, horário do uso. Deve observar ainda o desfecho final do uso, que inclui a taxa de sucesso – se houve cura e ou mortalidade.

IBSP – Por que os hospitais necessitam implantar o Antimicrobial Stewardship?

Sylvia – Não se pode mais conviver com altos níveis de taxas de uso de antimicrobianos resistentes simplesmente pelo fato de não existir um programa que controle o seu uso segundo microbiota, perfil de sensibilidade e resultados de desfechos. Há necessidade que o uso de antimicrobianos seja uma prioridade institucional, e que seja monitorado com indicadores que possam sinalizar as oportunidades de melhorias, que resultem numa microbiota saudável e menos resistente.

IBSP – As organizações de saúde e os profissionais têm conhecimento sobre o problema da resistência bacteriana aos antibióticos?

Sylvia – Ainda é pouco aprofundada a discussão sobre este problema. Ele é visto em manchetes, mídias ou em casos pontuais, mas não existe ainda um detalhamento das causas. Mas, se as instituições de saúde e hospitais tiverem seus programas de uso racional de antimicrobianos, como os programas do tipo Stewardship, poderão conhecer melhor suas realidades e otimizá-las.

IBSP – Antimicrobial Stewardship é uma prática de segurança? É recomendada pelos modelos de certificações nacional e internacional?

Sylvia – Sim. Com um programa de Stewardship para o uso de antimicrobianos poder-se-á monitorar a qualidade e segurança assistencial prestada pelos hospitais e serviços de saúde aos seus pacientes. Nos próximos anos, um programa de Stewardship para antimicrobianos será uma exigência na segurança do paciente, inclusive incorporadado aos manuais de certificadoras nacionais e ou internacionais.

IBSP – Qual o custo e o ROI (retorno do investimento) do programa Antimicrobial Stewardship?

Sylvia – Não há como mensurá-lo, mas, posso dizer que é infinito.  Sempre digo que trabalhar qualidade não é caro, mas, exige investimentos iniciais, que se diluem ao longo do tempo pelos seus benefícios. E o mesmo acontece com a implantação de um programa de Stewardship, pois, este, poderá necessitar investimentos em pessoas, equipes multidisciplinares capacitadas para este tipo de atividade, softwares, laboratório de microbiologia, uso de antimicrobianos efetivos e de qualidade, além de processos de treinamentos/educativos para mudanças de culturas.

IBSP – E os benefícios?

Sylvia – Em resumo, uma microbiota saudável, sensível aos antimicrobianos existentes, que serão usados de forma racional, com indicação correta, por tempo adequado, via certa e com resultados de eficácia que trarão melhores desfechos aos pacientes.

IBSP – Quais são as experiências de sucesso no Brasil e no mundo com o Stewardship?

Sylvia – No Brasil, são poucas e incipientes. No exterior, as experiências da Inglaterra, na qual fui treinada e que é baseada num programa de Stewardship nacional, suportado pelo NHS (National Health System), são um case de sucesso. Isso porque neste programa todo uso de antimicrobianos é sistematizado e acompanhado pelo médico assistente, junto ao infectologista e farmacêutico clínico, com objetivos previamente definidos e validados nacionalmente pelos diversos atores do processo de prescrições.

IBSP – Um programa de Stewardship deverá ser conduzido pelo time SCIH ou time multidisciplinar independente (infecto, farmacêutico, enfermeiro, microbiologista)?

Sylvia – O Stewardship poderá ser conduzido pelo time de controle de infecções, que a cada dia se integra ao time de gestão de riscos, nos quais estão o infectologista (clínico e com visão de epidemiologia hospitalar), o microbiologista, o enfermeiro controlador de infecções, o enfermeiro controlador de riscos (clínicos e não clínicos) – uma vez que infecções associadas à assistência à saúde (IRAS) é também um risco clínico – e, ao farmacêutico clínico, além de um assistente em TI para compilação de dados que deverão ser sistematicamente analisados pela equipe.

IBSP – O profissional passa a ter um papel diferenciado?

Sylvia – Todos passam a ter atividades mais diferenciadas no processo e, até com mais autonomia. A ideia é somar talentos e expertises e não criar apenas times multidisciplinares independentes. Com isso, um programa de Stewardship para o uso de antimicrobianos passa a ser uma prioridade, a base da qualidade assistencial.

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Fonte: Adaptado de IBSP

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